Muita da energia consumida atualmente não está a contribuir para o bem-estar humano

Combater a pobreza e as alterações climáticas?

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A quantidade de energia necessária para propiciar padrões de vida aceitáveis à totalidade da população mundial é uma fração do orçamento anual de energia, compatível com as metas climáticas de 1,5 °C de aquecimento. Seriam necessários apenas 28% a 39% do orçamento anual global de energia para suprir as necessidades básicas dessas pessoas.

Isto significa que a ação climática não está em conflito com a melhoria dos padrões de vida da população mundial

Para chegar a esta conclusão, foi calculada a energia necessária para satisfazer, em diferentes países do mundo, as necessidades básicas, como habitação, aquecimento, alimentação, água, saneamento, saúde, educação, tecnologias de comunicação e transporte .

Fornecer uma vida decente para toda a população mundial em 2050 exigiria cerca de 156 exajoules (EJ)* de energia por ano, afirmam os investigadores na Environmental Research Letters.

A energia necessária para fornecer padrões de vida aceitáveis varia nas diferentes regiões do mundo – é necessária mais energia para aquecimento nas regiões frias do que nos trópicos, por exemplos. Ao nível regional, porém, a energia necessária a um estilo de vida aceitável é inferior às necessidades de energia presentes, pelo que se poderá concluir que muita da energia consumida atualmente não está a contribuir para o bem-estar humano.

“A necessidade de energia para sustentar uma vida aceitável para todos está muito abaixo dos níveis de consumo atuais e dos projetados”, afirma Jarmo Kikstra, integrou a equipa que realizou este estudo, sendo colaborador do Instituto Internacional de Análise de Sistemas Aplicados em Laxenburg, Áustria

 “Isso sugere que a erradicação da pobreza é compatível com o alcance das metas climáticas, mas requer políticas mais equitativas”

Esta ideia reforça as de estudos anteriores, mas J. Kikstra e os colegas também enumeraram as atuais deficiências nos padrões de vida aceitáveis em todo o mundo. Também calcularam a energia necessária para mitigar essas lacunas, que não tinha sido feito antes.

“O nosso artigo aborda, pela primeira vez, o estado da pobreza energética multidimensional global e o desafio da implementação regional diferenciada para proporcionar uma vida decente para todos”, diz Kikstra.

As lacunas de padrões de vida aceitáveis são maiores na África Subsaariana, onde mais de 60% das pessoas não têm acesso a mais da metade dos indicadores de padrões de vida aceitável. O Sul da Ásia e o Pacífico Asiático também apresentam grandes deficiências a este nível.

Em todos os países do Sul do globo, o número de pessoas sem acesso a padrões de vida aceitáveis é maior do que as contabilizadas como pobre pelos rendimentos obtidos. “A pobreza é generalizada e o rendimento familiar diário pode não ser a maneira mais útil de a medir se nos preocupamos em descobrir como erradicar a pobreza e reduzir as pressões ambientais”, diz Kikstra.

Mas preencher essas lacunas é surpreendentemente alcançável, pelo menos em teoria. Segundo os cálculos realizados, seriam necessários cerca de 290 EJ de energia para construir as infraestruturas necessárias para toda a população global ter acesso a padrões de vida aceitáveis até 2040. Este valor corresponde a cerca de três quartos do atual consumo global de energia por ano.

Cerca de metade dessa energia seria canalizada para a construção de habitação e um quarto para fornecer transporte. Quanto à posterior manutenção de padrões de vida aceitáveis, a maior parte da energia anual seria necessária para o transporte, seguida por saúde e higiene, abrigo e nutrição.

Embora este cenário esteja dentro de orçamentos de energia compatíveis com o controlo do aquecimento global, exigiria, contudo, a redistribuição e o reequilíbrio generalizado do uso de energia: do Norte ao Sul do planeta, e dos ricos aos pobres em todos os países. Como consegui-lo? “Os governos, em diferentes níveis, têm muitas ferramentas à sua disposição, incluindo projetos de infraestruturas, padrões ambientais de produtos, subsídios e impostos”, afirmam os investigadores.

Os cálculos mostraram que os transportes são a necessidade básica que maior uso faz de energia. Daí que, talvez a maior implicação política do estudo seja o investimento de recursos que os governos deviam fazer em transportes públicos – melhorando as infraestruturas, removendo subsídios, reavaliando políticas que incentivam o uso de transporte privado e redesenhando as cidades para as tornar mais facilitadoras do trânsito.

“Tais políticas podem levar a um uso de energia mais igualitário nas sociedades, porque os transportes públicos e as viagens ativas são muito mais eficientes em termos energéticos do que o transporte privado, sem afetarem visivelmente as necessidades humanas.”

 

*Um exajoule é equivalente à quantidade de energia de 174.000.000 barris de petróleo.

Créditos & Fonte de pesquisa:

Unsplash | Environmental Research Letters – “Decent living gaps and energy needs around the world.”


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