A ação climática requer além de consciencialização uma conexão emocional. A sensibilidade para o tema começa quando as pessoas se preocupam com algo que está ameaçado pelas alterações climáticas e esse “algo” pode ser um qualquer lugar icónico do planeta, como por exemplo a Grande Barreira de Corais na Austrália, podendo inspirar preocupação com as alterações climáticas, mesmo entre aqueles que nunca visitaram ou nunca irão visitar este recife!
No entanto também existem armadilhas no caminho para a ação climática que atrasam este processo de ganho de empatia e interesse pelo planeta e pelo bem comum. É o caso das normas ditas sociais, onde a tendência de acompanhar o que outros estão fazendo pode ser uma barreira para as mudanças comportamentais necessárias para reduzir as emissões.
Aquelas pequenas ações para reduzir as pegadas de carbono pessoais – como, por exemplo, desligar as luzes durante o dia – podem fazer com que as pessoas superestimem o progresso que está sendo feito e adiem o apoio à ação climática.
Perguntar onde estamos no caminho da negação do clima para uma ação efetiva contra as alterações climáticas requer definir exatamente quem queremos dizer com “nós”.
Muitos estudos de psicologia climática são desenvolvidos nos Estados Unidos, onde a polarização política – os conservadores que na sua maioria duvidam das alterações climáticas e se opõem à ação climática, enquanto que os liberais aceitam a ciência climática e apoiam ações para reduzir as emissões de carbono – é particularmente aguda.
Alguns desses estudos sugerem que, na verdade, pode haver um terreno comum em todo o espectro ideológico. Uma pesquisa revelou que tanto liberais quanto conservadores querem um sistema de energia descarbonizado em 2050, com mais energia solar e eólica e menos dependência de carvão, petróleo e gás natural…diferem apenas na visão de como lá chegar!
Outro estudo mostrou que o Green New Deal, um conjunto abrangente de políticas para descarbonizar a economia americana e promover empregos verdes, teve apoio bipartidário quando foi introduzido pela primeira vez no final de 2018. O que mudou a opinião dos conservadores sobre o Green New Deal foi a comunicação social – nomeadamente de direita como a Fox News.
Uma visão global da cobertura dos media sobre alterações climáticas mostrou que, embora a cobertura varie de país para país, o melhor indicador de como as histórias são enquadradas foi a riqueza de um país.
Isto é, a cobertura e o destaque dado às alterações climáticas nos países mais ricos tende a se concentrar na ciência e na política interna, enquanto que a cobertura em países com menos recursos é dominada pelas relações internacionais e desastres relacionados com o clima.
O que é comum entre os países, no entanto, é a falta de histórias sobre as possibilidades de melhorar a vida das pessoas e ao mesmo tempo abordar as alterações climáticas – uma oportunidade perdida, talvez, de promover o tipo de esperança construtiva que leva à ação climática.
Muitos cientistas e comunicadores sobre alterações climáticas recentemente transmitiram uma mensagem que resume o estado das coisas a apenas 12 palavras:
– “Está aquecendo. Somos nós. Temos a certeza. É mau. Podemos reparar isto.”
É uma fórmula clara e simples e também evocativa: cinco estágios de compreensão das alterações climáticas que refletem os cinco estágios do luto.
E isso levanta a questão:
– Onde estão os vários setores do público nesse caminho? Até que ponto a opinião mudou da negação da mudança climática para a aceitação e, em última análise, a ação?
Uma pesquisa na Alemanha, com 509 adultos revelou que o público tem uma compreensão bastante adequada do básico. As pessoas sabem que o clima está mudando e que as atividades humanas são responsáveis, mas há muita mais dificuldade em identificar declarações falsas sobre alterações climáticas do que as verdadeiras.
Por exemplo:
– 84% da amostra identificou corretamente que a afirmação “o aumento dos gases de efeito estufa é causado principalmente por atividades humanas” é verdadeira;
– Apenas 54% reconheceram que a afirmação de que “a década de 1990 foi a década mais quente dos últimos 100 anos” é falsa.
Esta dificuldade em identificar as declarações falsas torna-se preocupante porque aqueles que desejam semear dúvidas sobre as alterações climáticas tendem a transmitir a desinformação com absoluta confiança e convicção.
No entanto, pode haver uma maneira de contornar estas falsas certezas. Um experimento psicológico online sugeriu que, quando as pessoas são informadas sobre os tipos de falsos argumentos usados pelos negadores da mudança climática, é menos provável que acreditem nesses argumentos quando os encontram nas redes sociais e na Internet.
Então esta estratégia de comunicação poderá funcionar como uma espécie de “vacina” contra a negação do clima.
Muitos psicólogos, investigadores na área da ação climática, tentaram remover as camadas de circunstância e motivação para entender o que impele as pessoas a agir. Alguns defensores do clima argumentaram que é mais eficaz assustar as pessoas para que tomem posição de combate às alterações climáticas; outros argumentam que isso apenas paralisa as pessoas com medo e que as mensagens deveriam enfatizar a esperança.
A evidência científica sugere que a abordagem mais construtiva é subtil, e nos diferentes estudos realizados, um dos resultados interessantes é que as pessoas mais propensas a apoiar as políticas climáticas e expressar vontade de agir por conta própria eram aquelas que acreditavam que podemos parar as alterações climáticas – embora conscientes de que ainda não estamos fazendo o suficiente e podemos falhar.
Ou seja, tanto a esperança quanto o medo são necessários.
Outro estudo sugeriu que a ação climática reflete uma estratégia psicológica de confronto que ajuda as pessoas a lidar com as suas preocupações ambientais – a ação é uma forma de esperança, um baluarte contra o medo!
Se já refletiu, qual lhe parece ser a melhor estratégia? Medo ou Esperança?
Já agora, faça o quiz e saiba se é um bom poligrafo!
Somos uma plataforma online independente, de conteúdos informativos e de sensibilização sobre ambiente e sustentabilidade.