Sumaumeira, Kapok, Taban Fai, Yaaxche!

Todas as árvores são sagradas, mas há uma que é mais…

| EcosS
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Créditos & Fonte de pesquisa:

Unsplash, Flocus Pro

Sumaumeira, Kapok, Taban Fai, Yaaxche!

Sim, até podiam ser os impropérios que chamaríamos a alguém (a coberto da máscara de proteção) que na fila do supermercado nos passasse com o carrinho de compras por cima do dedinho do pé mais estimado!

Mas não… Estamos apenas a citar alguns dos nomes pela qual é conhecida a “árvore da vida”, a “escada do céu”, a “mãe-das-árvores” , a “mãe da humanidade”, a mais sagrada das árvores e rainha da Amazónia:  a mafumeira ou sumaúma ou samaúma.

Considerada sagrada para os antigos Maias, México, e para diversos povos indígenas brasileiros. Nas lendas, a sumaúma tem o seu espírito invocado pelos xamãs aquando dos rituais de cura e para os índios Ticunas a sumaúma acabou com a noite sem fim, dando origem ao dia, sendo o elemento essencial no mito da criação do mundo.

Esta árvore, é vista como um portal de comunicação com o mundo espiritual e também como uma grande mãe, que protege todos os seres da floresta, a sua grandiosidade é símbolo de força e proteção abrigando um pequeno ecossistema, tendo em conta a capacidade de retirar água das profundezas do solo para se abastecer mas também irrigando outras espécies em redor.

Das maiores da floresta Amazónica, a imponente mafumeira ou sumaúma  destaca-se pelo facto de poder atingir os 90 metros de altura e o tronco cerca de três metros de diâmetro e mesmo que ainda não tenha identificado visualmente esta árvore é normal que as imagens seguintes lhe transmitam a sensação de força e energia que a árvore da vida emana!

Na Mafumeira, as ramificações do tronco junto às raízes de forma tubular (chamadas sapopembas) além de em determinadas épocas rebentarem irrigando toda a área em torno dela, formam igualmente compartimentos altos, os quais são muitas vezes utilizados como abrigo e habitação para povos indígenas e outras populações locais na Amazónia.

Começamos aos poucos a perceber o porquê de ser considerada a árvore da vida mas mais interessante é que a mafumeira  é igualmente uma espécie de serviço telemóvel da floresta!

As suas raízes auxiliam na comunicação e orientação entre os habitantes pois, ao serem tocadas, emitem sons que ecoam por longas distâncias usando códigos de sons e toques numa linguagem própria, normalmente para avisar sobre a presença de alguém ou um nascimento, casamento ou morte.

Todas as partes desta árvore, isoladas ou combinadas, têm inúmeras aplicações e a casca da Yaaxche, nome pelo qual era conhecida dos Maias, era e continua a ser utilizada como aditivo para algumas versões da bebida  enteógena Ayahuasca, (alteração da consciência e indução de estado xamânico ou de êxtase).

Na medicina popular, árvore é amplamente conhecida pelas suas propriedades terapêuticas: anti-inflamatória, diurética, antibacteriana e antifúngica.

As diferentes partes (folhas, caules, raízes, seiva) da Ceiba pentandra (nome científico da espécie) podem ser utilizadas no tratamento e alívio de doenças e sintomas como:

  • bronquite, diarreia, disenteria, artrite, dores de cabeça, febre crónica, picadas de insetos;
  • doenças de pele, inflamações e furúnculos (em emplastros);
  • conjuntivite (seiva);
  • e ainda como afrodisíaco, diurético e diabetes do tipo II (chá de cascas) entre muitos outros.

Além de ser importante na medicina popular, esta majestosa árvore é fonte de matérias-primas, tem madeira macia, usada para marcenaria leve, instrumentos musicais e esculturas etc.

Das sementes é extraído óleo, aproveitado principalmente para a fabricação de sabão, detergente e fertilizantes, além de que é igualmente utilizado na indústria culinária e medicinal.

Conhecida por algodoeiro por causa das fibras das sementes, inclusive a palavra sumaúma ou samaúma é usada para descrever a fibra obtida dos seus frutos, a mafumeira tem importância histórica como fonte de fibra alternativa ao algodão.  Esta fibra, o “kapok” ou paina,  serve para confeção de boias e de salva-vidas, encher almofadas e colchões, como material de isolamento (acústico, térmico) e absorvente. Contudo, o uso desta fibra diminuiu no final do século XX após a introdução de substitutos sintéticos.

Atualmente há um interesse renovado nessas fibras devido a novas técnicas de processamento, especialmente em aplicações têxteis e também como uma alternativa aos materiais sintéticos biodegradável, devido às suas propriedades hidrofóbicas-oleofílicas (aversão a água e afinidade com óleo).

Em Portugal, descobrimos algumas empresas do Norte, esta e esta que utilizam misturas destes fios sustentáveis, em tecidos e recheios para colchões, travesseiros e almofadas feitos com a fibra da mafumeira, com grande valor agregado, pois a fibra é natural e reciclável, tem toque macio e sedoso, ação antibacteriana, é resistente ao mofo e à proliferação dos ácaros e é termorreguladora.

Para a indústria têxtil e de vestuário, a redescoberta da mafumeira pode ser uma verdadeira revolução tecnológica. A sua fibra utilizada na indústria têxtil é, atualmente, considerada uma das mais sustentáveis, ecológicas e inovadoras!

Ao misturar-se com algodão, apenas 30% de fibras de mafumeira, pode economizar-se  cerca de 3 mil litros de água para cada quilo de algodão. Um número bastante expressivo e que vem a cada ano, aumentando à medida que se vai descobrindo mais sobre este material. A única desvantagem, por enquanto, é que, a fibra ainda não é adequada para produzir um tecido a 100%.

A quantidade de água que podemos economizar misturando a fibra do algodão com fibra de mafumeira é incrível e serve de incentivo à pesquisa e ao objetivo de reduzir a presença de produtos sintéticos, utilizando uma alternativa completamente natural.

Então… vai chamar mafumeira à próxima pessoa que o(a) pisar ou prefere divulgar e partilhar este artigo pelos seus amigos?

 


Curiosidades

  • A mafumeira é um símbolo sagrado na mitologia Maia e é a árvore oficial de Porto Rico.
  • É considerada uma PANC (Planta Alimentícia não Convencional) e suas folhas jovens são consumidas cozidas ou cruas em saladas.
  • As flores são de cor branca ou amareladas, e a polinização é realizada principalmente por morcegos.
  • O tronco e muitas das pernadas maiores estão rodeadas de enorme quantidade de espinhos simples, muito grandes e robustos.
  • Os frutos medem cerca de 15 cm e a dispersão das sementes é realizada pelo vento, quando os frutos se rompem, libertam as sementes envolvidas pela paina (fibra macia natural, fina e sedosa, de cor amarelada que é uma mistura de linho e celulose  muito semelhante ao algodão).
  • A mafumeira é cultivada, para fins comerciais, na América do Sul, em Angola e Ásia, nomeadamente em Java, Filipinas, Malásia e Indonésia.

Nomes atribuídos

  • Português do Brasil: sumaumeira, sumaúma-da-várzea, mafumeira, algodoeiro;
  • Guaraní: sumaúma;
  • Inglês: kapok tree, cotton tree;
  • Espanhol: amapola blanca, cabellos de ángel, ceiba, ceiba de lana, ceibo clavelina, corcho, parota, pitón, árbol de algodón, árbol de la vida;
  • Francês: arbre coton, arbre de Dieu;
  • Italiano: albero del kapok;
  • Tailandês: taban fai;
  • na Bolívia – mapajo;
  • no México – pochote;
  • na Colômbia – pochota;
  • em Costa Rica, Venezuela e Honduras – ceiba;
  • no Equador – ceibo;
  • no Peru – kankantri, huimbre de altura;
  • em São Tomé e Príncipe – ocá;
  • na Guiné-Bissau – poilão.
Nota:
A mafumeira ou Sumaúma (Ceiba pentandra) é uma planta tropical da ordem Malvales e da família Malvaceae, (a mesma das paineiras, barrigudas e baobás) nativa do México, estende-se pela América Central e Caraíbas, norte da América do Sul e da África Ocidental, também pode ser encontrada no Sudeste Asiático. No Brasil, tem ocorrência na floresta de várzea da Amazônia, nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

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