Sumaumeira, Kapok, Taban Fai, Yaaxche!
Sim, até podiam ser os impropérios que chamaríamos a alguém (a coberto da máscara de proteção) que na fila do supermercado nos passasse com o carrinho de compras por cima do dedinho do pé mais estimado!
Mas não… Estamos apenas a citar alguns dos nomes pela qual é conhecida a “árvore da vida”, a “escada do céu”, a “mãe-das-árvores” , a “mãe da humanidade”, a mais sagrada das árvores e rainha da Amazónia: a mafumeira ou sumaúma ou samaúma.
Considerada sagrada para os antigos Maias, México, e para diversos povos indígenas brasileiros. Nas lendas, a sumaúma tem o seu espírito invocado pelos xamãs aquando dos rituais de cura e para os índios Ticunas a sumaúma acabou com a noite sem fim, dando origem ao dia, sendo o elemento essencial no mito da criação do mundo.
Esta árvore, é vista como um portal de comunicação com o mundo espiritual e também como uma grande mãe, que protege todos os seres da floresta, a sua grandiosidade é símbolo de força e proteção abrigando um pequeno ecossistema, tendo em conta a capacidade de retirar água das profundezas do solo para se abastecer mas também irrigando outras espécies em redor.
Das maiores da floresta Amazónica, a imponente mafumeira ou sumaúma destaca-se pelo facto de poder atingir os 90 metros de altura e o tronco cerca de três metros de diâmetro e mesmo que ainda não tenha identificado visualmente esta árvore é normal que as imagens seguintes lhe transmitam a sensação de força e energia que a árvore da vida emana!
Na Mafumeira, as ramificações do tronco junto às raízes de forma tubular (chamadas sapopembas) além de em determinadas épocas rebentarem irrigando toda a área em torno dela, formam igualmente compartimentos altos, os quais são muitas vezes utilizados como abrigo e habitação para povos indígenas e outras populações locais na Amazónia.
Começamos aos poucos a perceber o porquê de ser considerada a árvore da vida mas mais interessante é que a mafumeira é igualmente uma espécie de serviço telemóvel da floresta!
As suas raízes auxiliam na comunicação e orientação entre os habitantes pois, ao serem tocadas, emitem sons que ecoam por longas distâncias usando códigos de sons e toques numa linguagem própria, normalmente para avisar sobre a presença de alguém ou um nascimento, casamento ou morte.
Todas as partes desta árvore, isoladas ou combinadas, têm inúmeras aplicações e a casca da Yaaxche, nome pelo qual era conhecida dos Maias, era e continua a ser utilizada como aditivo para algumas versões da bebida enteógena Ayahuasca, (alteração da consciência e indução de estado xamânico ou de êxtase).
Na medicina popular, árvore é amplamente conhecida pelas suas propriedades terapêuticas: anti-inflamatória, diurética, antibacteriana e antifúngica.
As diferentes partes (folhas, caules, raízes, seiva) da Ceiba pentandra (nome científico da espécie) podem ser utilizadas no tratamento e alívio de doenças e sintomas como:
Além de ser importante na medicina popular, esta majestosa árvore é fonte de matérias-primas, tem madeira macia, usada para marcenaria leve, instrumentos musicais e esculturas etc.
Das sementes é extraído óleo, aproveitado principalmente para a fabricação de sabão, detergente e fertilizantes, além de que é igualmente utilizado na indústria culinária e medicinal.
Conhecida por algodoeiro por causa das fibras das sementes, inclusive a palavra sumaúma ou samaúma é usada para descrever a fibra obtida dos seus frutos, a mafumeira tem importância histórica como fonte de fibra alternativa ao algodão. Esta fibra, o “kapok” ou paina, serve para confeção de boias e de salva-vidas, encher almofadas e colchões, como material de isolamento (acústico, térmico) e absorvente. Contudo, o uso desta fibra diminuiu no final do século XX após a introdução de substitutos sintéticos.
Atualmente há um interesse renovado nessas fibras devido a novas técnicas de processamento, especialmente em aplicações têxteis e também como uma alternativa aos materiais sintéticos biodegradável, devido às suas propriedades hidrofóbicas-oleofílicas (aversão a água e afinidade com óleo).
Em Portugal, descobrimos algumas empresas do Norte, esta e esta que utilizam misturas destes fios sustentáveis, em tecidos e recheios para colchões, travesseiros e almofadas feitos com a fibra da mafumeira, com grande valor agregado, pois a fibra é natural e reciclável, tem toque macio e sedoso, ação antibacteriana, é resistente ao mofo e à proliferação dos ácaros e é termorreguladora.
Para a indústria têxtil e de vestuário, a redescoberta da mafumeira pode ser uma verdadeira revolução tecnológica. A sua fibra utilizada na indústria têxtil é, atualmente, considerada uma das mais sustentáveis, ecológicas e inovadoras!
Ao misturar-se com algodão, apenas 30% de fibras de mafumeira, pode economizar-se cerca de 3 mil litros de água para cada quilo de algodão. Um número bastante expressivo e que vem a cada ano, aumentando à medida que se vai descobrindo mais sobre este material. A única desvantagem, por enquanto, é que, a fibra ainda não é adequada para produzir um tecido a 100%.
A quantidade de água que podemos economizar misturando a fibra do algodão com fibra de mafumeira é incrível e serve de incentivo à pesquisa e ao objetivo de reduzir a presença de produtos sintéticos, utilizando uma alternativa completamente natural.
Então… vai chamar mafumeira à próxima pessoa que o(a) pisar ou prefere divulgar e partilhar este artigo pelos seus amigos?
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